deu no new york times | 01 de junho de 2024
Nunca esqueço uma aula que tive na faculdade de Jornalismo ministrada por José Salvador Faro. Devia ser 2003. O professor propunha um debate a partir do seguinte enunciado: “Toda notícia que couber, a gente publica”.
A fonte da frase era algum texto sobre teoria do jornalismo, cujo título, passados tantos anos, realmente me escapa. Mas o conteúdo é inesquecível.
Porque o tema ali não era tanto quantos caracteres uma página de jornal comporta – as notícias que cabem nos limites da diagramação –, e sim quais informações devem ou não ocupar o espaço de um veículo de imprensa.
Qual notícia é válida? Adequada? Oportuna? Qual notícia cabe publicar?
Perdão o papo chato, sei que essa discussão empolga mais jornalistas do que pessoas civis. Mas ela aqui tem razão de ser. Porque é o motivo básico por trás de Avoada.
Em grande medida, Avoada existe para abrigar as pautas que, no meu ofício de jornalista freelancer, nenhum veículo (entre os poucos que sobraram) entendeu caber publicar.
Como uma matéria sobre o projeto Goma-Laca. Digno de espaço, segundo me disse certo portal, “só se eles tiverem feito alguma grande descoberta sonora recente”.
Pois muito que bem. Em Avoada, Goma-Laca é notícia apenas por existir.
Assim como O mundo que sei, série documental & podcast sobre a infância contemporânea lançados no fim do ano passado. Paula Delage Faria, habilitadíssima para a tarefa, destrinchou os conteúdos e volta para contar.
Boa leitura!
Mariana
Antes, atenção para a notícia mais válida, adequada e oportuna: junte-se a mim em desejar todas as bênçãos ao pequeno Gabriel, que acaba de chegar a este planeta Terra pela via de duas pessoas das mais especiais, apoiadoras infalíveis de Avoada desde o momento zero. Venha conhecer a vida, Gabriel!
em busca dos sons silenciosos
No Goma-Laca, projeto que criou com Ronaldo Evangelista, Biancamaria Binazzi trabalha para amplificar as vozes brasileiras registradas em 78 rotações
“O que a musicalidade de um tempo conta sobre realidades emocionais e sociais?”
A pergunta é da radialista e produtora cultural Biancamaria Binazzi no encarte do disco Cantos populares do Brasil de Elsie Houston, um dos frutos do projeto Goma-Laca. Fundado em 2009 por Biancamaria junto com o jornalista e produtor musical Ronaldo Evangelista, o Goma-Laca é, de acordo com o site oficial, “um centro de criação e pesquisa dedicado ao universo musical brasileiro gravado em discos de 78 rotações (entre 1902 e 1964)”.
A definição de Biancamaria à mesa de um restaurante na região da avenida Paulista, em São Paulo, reforça caminhos. “O que eu gosto de dizer do Goma-Laca é: conectar acervos e gerações”, começa. “É criar pontes entre o que tem na Universidade de São Paulo (USP), no Instituto Moreira Salles (IMS), nas coleções particulares. E é falar pra todo mundo e ouvir de todo mundo.” Por isso um centro que não só investiga passados, mas também inventa presentes: “Não vale só pesquisar. Precisa criar, porque a gente quer juntar gentes diferentes”.
No Goma-Laca, isso acontece por meio de programas de rádio, podcasts, artigos, shows e discos que dão roupagem contemporânea a verdadeiras pérolas da música brasileira produzida em discos de 78 rotações por minuto (ou 78 rpm). E se você, como eu, não tem referência alguma sobre esses objetos, Biancamaria nos ensina o bê-á-bá. A começar pela fabricação: “É um disco de baquelite, tem pedra, cola, cera de carnaúba, tinha gente que punha até papel. E um dos materiais é a goma-laca”. Daí o nome do projeto.
O resultado é uma chapa mais frágil do que o nosso conhecido vinil, e também mais cheia de chiados: “A gente considera o marco de 1964 porque é quando os 78 pararam de ser produzidos por causa do vinil. Além de não quebrar, o vinil tem um som muito melhor porque a rotação é mais lenta, de 33 rpm”, explica. “No 78 o chiado é tipo ovo frito, mesmo. Só que isso também é o tempo que passou. São cem anos de pó, mãozinhas, gordurinhas... É bonito.” Essas particularidades inviabilizam a audição em vitrolas comuns. É preciso ter a agulha certa.
Mas de onde vem o encanto por objetos aparentemente tão distantes da vida de uma jovem de 40 anos, nascida e criada na pauliceia desvairada?
“Começa pela flauta”, diz. “Eu queria tocar flauta, trabalhar com música, mas não queria fazer faculdade de Música. Então, fui estudar Rádio e TV na Faculdade Cásper Líbero. E veja que sorte: lá tem a rádio Gazeta, com uma história superimportante. E existe no prédio um andar só de discoteca, só de acervo de disco. Eu consegui um estágio.” Nascia aí o primeiro de seus dois amores: o rádio.
A segunda paixão, o disco, chegou no estágio seguinte. Biancamaria foi trabalhar na recém-criada web rádio do Centro Cultural São Paulo (CCSP), inventando programas a partir do acervo digitalizado da Discoteca Oneyda Alvarenga. “Lá reencontrei Mário de Andrade, que eu já amava por causa do livro O turista aprendiz. E lá surgiu essa mulher chamada Oneyda Alvarenga. Maravilhosa! Musa do meu mestrado”, conta. Para saber mais sobre a etnóloga Oneyda e a discoteca homônima, ouça este programa de rádio do Goma-Laca.
Criada por Mário de Andrade em 1935, a discoteca apresentou os discos de 78 rotações à estudante: “Eu não sabia que isso existia. Não sabia que existia música antes do vinil. Foi como descobrir um universo! E eu não vejo como um passado. Vejo beleza nessas vozes”, diz. “Eu ouvi uma frase muito legal: não é que essas vozes foram silenciadas. Elas estão silenciosas. Quer dizer, tem sim os silenciados, como a turma do candomblé. Mas tem os silenciosos, como Elsie Houston, Jararaca e Ratinho. Eles estão silenciosos porque a gente não tem acesso.”
Foi para promover tal acesso que Goma-Laca veio ao mundo. Por indicação de Maria Luiza Kfouri (criadora do site Discos do Brasil), em 2005 Biancamaria chegou à rádio Cultura, onde ficou até 2009: “Fiz de um tudo lá. Foi a melhor faculdade”. Quem também trabalhava naquelas ondas sonoras era Ronaldo Evangelista, com uma pegada diferente da amiga: “Eu sou dos velhinhos, Ronaldo é dos modernos. Ele escrevia na Folha de S.Paulo sobre música novíssima, que não tinha em CD. Me trouxe nomes que ninguém conhecia, como Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Marcelo Jeneci”.
Com a empolgação de Ronaldo perante os garimpos musicais de Biancamaria – “Ele falava: essa música é linda! Olha essa letra! Aracy de Almeida! Imagina a Tulipa, ela precisa ouvir isso!” –, a dupla criou um perfil no finado Posterous, tipo de blog que permitia áudios. “O objetivo era mostrar essas coisas para os amigos, para que soubessem que isso existia. Só que a gente era muito fértil.” E diante de tanta fertilidade, aos poucos Goma-Laca foi alçando voos mais ousados.
Em 2011 veio o primeiro show, Volume 1: “Por causa do centenário da Oneyda, fomos convidados pelo CCSP a criar um projeto a partir do acervo da discoteca”, conta. Biancamaria e Ronaldo selecionaram as músicas. Novas versões, mais modernas, foram feitas. A direção musical coube a Thiago França, e seu grupo instrumental Sambanzo recebeu pessoas como Juçara Marçal e Emicida. Não há registro em disco. Por aqui você encontra vídeos do show, gravações originais em 78 rpm (1938 a 1957) e um libreto especial.
Em 2014 foram o show e o disco Afrobrasilidades em 78 rpm, com apoio do Sesc e do programa de fomento estadual ProAC. “As músicas que as pessoas mais amaram ouvir e os músicos mais amaram tocar no Volume 1 eram temas do candomblé, jongos, emboladas, então fomos por aí”, explica. Entre os convidados, Russo Passapusso, Karina Buhr, Lucas Santtana. Pensaram grande para a direção musical: o maestro baiano Letieres Leite, falecido em 2021. “Minha vida valeu viver, sabe, por ter conhecido ele. Uma pessoa absurda, absurda.”
Um pouco dessa absurdez a gente pode testemunhar neste documentário sobre a gravação do disco. Vale cada minuto. “A gente tinha mandado as músicas, aí pedimos: Letieres, você manda as partituras? Não chegava. Letieres, tem as partituras pra tirar xerox? Aí, ele: não, gente! Não tem partitura. Aqui é oralidade, é método africano. E não quero anotar, e não é pra gravar. É assim, ó. Pá! E os músicos suando de desespero”, ri. “É um disco vivo. É o Letieres.” Clique aqui para baixar disco & encarte, ouvir as gravações originais em 78 rpm (1929 a 1954) e mais conteúdos.
Por fim, a turma lançou Cantos populares do Brasil de Elsie Houston, primeiro em show, em 2018, por encomenda do IMS, depois em disco, em 2019, com apoio do ProAC e parceria com a gravadora YB. “Quando o IMS da avenida Paulista foi inaugurado [em 2017], o curador pediu um show que tivesse a ver com os acervos. Por causa do Mário de Andrade eu já conhecia Chants Populaires du Brésil, da Elsie Houston, e ela sempre foi minha preferida. Mas é um livro de 1930, muito raro, porque não foi lançado no Brasil. E o IMS tinha! Então foi o mote”, diz.
No livro, Elsie, contemporânea de Mário, Pagu e Tarsila do Amaral, anota temas do cancioneiro popular ouvidos em suas viagens pelo Brasil. Enquanto o show teve formato mais intimista, o disco conta com Pastoras do Rosário da Penha, André Mehmari e Siba, entre outros nomes, além da participação central de Alessandra Leão. Por aqui você ouve o disco, baixa o encarte-libreto, assiste a um breve making of e conhece mais sobre Elsie Houston, Chants Populaires du Brésil etc. e tal.
Atualmente Goma-Laca pensa os próximos passos, tendo no horizonte o lançamento em vinil de Afrobrasilidades em 78 rpm, uma parceria com o selo Marafo nos dez anos do disco. De sua parte, Biancamaria, cuja bagagem inclui passagens por rádios e instituições culturais, encerrou há pouco um trabalho para o projeto Liber|Sound, ligado à portuguesa Universidade de Aveiro: um programa de rádio com o que estava sendo descoberto nas pesquisas em 78 rpm em Moçambique, Goa, Brasil e Portugal.
Por meio de seu RadioEstudio Manacá, Biancamaria dá aulas, cria playlists, programas de rádio, conteúdos. Uma dessas tarefas acelera o fim do nosso encontro: ela precisa correr ao Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, onde a noite aconteceria um curso com produção sua sobre música brasileira nos tempos da República. Antes da despedida, perguntas finais. Por onde alguém interessado em 78 rpm pode começar? “O lugar mais legal é o site Discografia Brasileira, do IMS. Eles juntaram as coleções mais importantes do país, como a do Nirez, em Fortaleza, digitalizaram e disponibilizaram lá.”
E o que, para você, é música brasileira? “Difícil. É difícil. O Goma-Laca acabou virando sem querer essa música que flerta com a música de tradição oral, com a música da festa, da rua, da celebração, da fé. Mas o que é a música? Precisa ter sido gravado pra ser relevante? Eu acho que não. A gente vai muito na pista do Mário de Andrade, porque a gente sabe que ele não tava escutando o que todo mundo ouvia. Mas acho que, na verdade, são músicas brasileiras. É diverso. E é atemporal. A música que sobrevive, que faz sentido até hoje.”
Como está o Brasil no cuidado com a nossa memória? “A memória ainda tá muito no museu, né? É tipo uma entidade, você vai lá como se fosse numa igreja. E não é só o quadro ou o fóssil, a música também. O passado tá lá, intocável, intocado. É bom que isso esteja salvo na caixa. Mas qual é a graça de estar salvo e você nem saber que existe? E uma questão contemporânea que acho muito legal é a repatriação. O próprio Mário de Andrade: fomos lá, coletamos tudo, tiramos os objetos sagrados. E agora? Será que em 2024 não temos que deixar pras pessoas ouvirem a música delas? Ter o acesso? Acesso. Essa é a palavra.”
O que mudou dos tempos de Mário para cá? “Isso é legal de a gente falar. O discurso dele era: isso tudo vai entrar em extinção porque o rádio vai acabar com a música popular. As estradas vão encurtar as distâncias. Então, esse acervo ele juntou não porque pensava: isso é foda, todo mundo tem que ouvir. É do tipo: preserva, porque não vai existir, deixa eu musealizar esse tambor do candomblé. Mas hoje é o contrário. Um release do Goma-Laca dizia: projeto resgata não sei o quê. E a Alessandra Leão falou: não é resgate. O cara tá aqui há 100 anos. Eles que estão resgatando a gente!”
“E tem a ver com o silencioso e o silenciado”, continua. “Essas coisas estão silenciosas na gaveta. Mas se você começa a fazer projetos, trazer as pessoas... Por isso a gente não quer imitar o que foi feito. O caminho do Goma-Laca é que a pessoa ouça o Letieres Leite, ame, dance muito, depois vá ouvir a música original de 1930 e descubra que existiu um Zé Espinguela. Por que eu vou chamar o Letieres, um gênio, pra imitar? Não é cover porque não vai ficar bom hoje em dia. Mas se você põe uns músicos maravilhosos, que têm sangue, a coisa fica atual e a turma sai cantando.”
Então vá. Ame. Dance muito. Ouça a música original. E descubra que existiu um Zé Espinguela.



tempo de escuta
“Man féri man”, por Sambanzo, Juçara Marçal & Emicida (2011) e por Jorge da Silva e Seu Terreiro (1956)
“Minervina”, por Karina Buhr (2014) e por Vanja Orico (1954)
recordar é viver
Já que estamos na seara de retomar joias da cultura brasileira, o programa Recordar é TV, da TV Brasil, revira o acervo de emissoras públicas e educativas – principalmente da antiga TVE do Rio de Janeiro – para compor novos episódios temáticos.
As quatro temporadas podem ser assistidas no canal oficial da TV Brasil no YouTube. Até o momento são 130 vídeos na playlist do programa. Mas eu te dou um mapa da mina:
Elza Soares no programa Água viva, apresentado por Hermínio Bello de Carvalho no início dos anos 1980. Elza canta lindamente e é puro carisma. Não tem talvez, não tem perhaps!
Perfeito Fortuna em entrevista a Ziraldo no programa O papo, na década de 1980. Fortuna é uma das mentes por trás dos históricos Circo Voador, Fundição Progresso e Asdrúbal Trouxe o Trombone. Um homem que faz!
E o meu absoluto favorito: Jorge Amado no programa Advogado do diabo, em 1986, respondendo a perguntas de Dorival Caymmi, Fernando Sabino, Chico Anysio, Mário Lago... Delícia!
Mais:
Alcione, em 1986 e 2003, com participação de Jair Rodrigues e intervenção maravilhosa de suas irmãs
Antônio Abujamra, em 1989, cheio de humor e uma história ótima sobre Sófocles
Jackson do Pandeiro, nos anos 1980, com direito a Grande Otelo e Alceu Valença
O resto é com você. Porque aqui, “se existe memória, a fita roda”!
O mundo que as crianças sabem: o que elas pensam sobre a infância contemporânea
Recebi de Avoada o delicioso convite para me debruçar sobre uma iniciativa lançada em novembro de 2023. Trata-se de O mundo que sei (OMQS), “uma plataforma multimídia que investiga o que pensam as crianças a partir da escuta sensível”, como explica o site.
O projeto tem duas partes. A primeira é uma série documental composta por nove episódios disponíveis aqui. Entender as crianças por elas mesmas parece ser o objetivo principal. Para a realização do documentário, 23 crianças da cidade de São Paulo vindas de diferentes realidades socioeconômicas foram convidadas a participar.
Desafiando a noção de que certas discussões são exclusivas ao mundo adulto, OMQS busca criar um espaço seguro para que as crianças pensem a infância contemporânea e o mundo em que vivemos. O guarda-chuva de temas abordados é amplo: racismo, meio ambiente, violência, identidade, urbanismo, telas e tecnologia, gênero e diversidade, educação, família e escola. Ufa! Entre tantos assuntos urgentes e complexos, cada um deles capaz de render documentário próprio, fica a sede por um aprofundamento maior do que a duração de 15 minutos consegue cobrir.
A estrutura do documentário lança mão de uma narrativa ficcional: a personagem alienígena Solo viaja 50 anos-luz e chega até o planeta Terra. Nessa jornada rumo ao desconhecido, Solo, incorporada à imagem de um antigo aparelho de televisão, conta com o apoio das crianças para descobrir quem são os humanos. A referência fílmica, segundo o diretor Victor Ribeiro, foi a produção soviética Solaris, de 1972, dirigida por Andrei Tarkovski.
Nesse cenário fictício, as crianças dão suas opiniões em depoimentos individuais, discussões em roda, vivências teatrais e atividades lúdicas. Perguntas feitas por Solo norteiam o desenrolar dos episódios. Cada tomada se torna um mosaico construído com a visão de mundo saudavelmente heterogênea de Julia, Jun, Hannah, Vitor e demais protagonistas mirins.
Mas a missão de “desvendar o que as crianças pensam e sentem” se coloca mais desafiadora do que aparenta ser. As crianças têm muito a dizer, com suas individualidades e experiências únicas. Trazem reflexões pertinentes, por vezes com tanta maturidade que parecem pequenos adultos. À Solo poderia ter sido dada a tarefa de amarrar melhor as discussões. Onde aterrissam tantas opiniões picotadas? Não sei dizer se ao final dos episódios eu, espectadora, tenho mais condições de entender o mundo como as crianças o veem.
Questionamentos editoriais à parte, assistindo ao documentário me peguei apreensiva ao notar naquele grupo certo pessimismo diante da vida. A solidão, a preocupação com a destruição ambiental, a violência dentro da escola. Parece justo dizer que o mundo está mais pesado para as crianças de hoje. “Eu não tenho medo da morte, mas eu tenho medo do futuro”, fala Julia, de 13 anos.
O acesso facilitado à informação trouxe às crianças uma consciência (e um vocabulário) sobre questões que as gerações anteriores só tinham contato quando mais próximas do mundo adulto. A construção de relações e o entendimento das próprias emoções são descobertas naturais da infância. Mas Inteligência Artificial e aquecimento global, por exemplo, são preocupações mais apressadas. “A humanidade pode ser extinta por si mesma porque ela está destruindo o planeta”, diz Jun, de 9 anos.
Estariam as crianças da geração atual mais maduras, mas também mais ansiosas? Diante de questões que tiram o sono de adultos, em que momento as crianças vão se ocupar daquilo que é mais singular e importante na infância: o brincar? Qual é o lugar da brincadeira na infância contemporânea e urbana?
Entra aqui a segunda parte do projeto, a meu ver mais redonda em formato, objetivos e público-alvo, um pouco confusos no documentário. Em um podcast com nove episódios, personalidades e especialistas são convidados pela anfitriã Giuliana Bergamo a aprofundar as discussões, tendo como pontapé inicial falas das crianças na série documental. Profissionais de peso dão contribuições com toda a seriedade necessária para que adultos olhem, reflitam e cuidem do mundo infantil.
Do debate sobre políticas públicas para que as crianças ocupem as ruas com segurança a orientações de como abordar o tema da violência sexual de modo responsável, ouvir ao podcast é uma ótima forma de lembrar da premissa de que compete aos adultos proteger a infância. Esse convite se estende ao perfil de OMQS no Instagram, rico em informações, provocações e lembretes para adultos com mais empatia, conexão e escuta genuína.
Pelo Instagram ficamos sabendo que essa foi apenas a primeira temporada de OMQS, encerrada em março deste ano. Tem mais por vir. E já há uma adição recente: a publicação da pesquisa etnográfica que serviu de ponto de partida ao projeto. Importante para contextualizar e ir mais fundo nos insights da série documental e do podcast.
recomendamos
Paula Delage Faria é cientista social, com passagens pelo Instituto Ayrton Senna e pela SharingStories Foundation, que trabalha para proteger e fortalecer a linguagem, história e herança cultural dos povos originários australianos. É mãe da Marina e apaixonada por descobrir o mundo da infância.
espia
The Midnight Special foi um programa de televisão veiculado na NBC, nos Estados Unidos, dos anos 1970 ao início dos 1980, com um foco muito definido: música. Ao vivo. Sem playback. Eis que desde 2022 há um canal oficial no YouTube que divulga pouco a pouco o valiosíssimo acervo. Alguns artistas até fizeram as vezes de apresentadores, como este episódio a cargo de David Bowie. Vá por aqui: James Brown, Fleetwood Mac, Dolly Parton, King Crimson, Al Green, Blondie, Ike & Tina Turner. Quem sabe faz ao vivo!
Apaixonada por comida e literatura, em 2012 a estadunidense Nicole Villeneuve decidiu reunir tudo num só lugar: o blog Paper and Salt, em que recria receitas imortalizadas em livros, cartas e diários. Nicole escreve crônicas deliciosas sobre autor & obra e ainda inclui o passo a passo da receita para quem quiser se arriscar. O grau de dificuldade varia: do ovo cozido de Ursula K. Le Guin ao pato à laranja de T.S. Eliot. Também temos drinks. A última atualização é de janeiro de 2023.
Em terras brasileiras, “Pessoa-árvore”, do Sumaúma Jornalismo, tenta responder a uma pergunta de formulação simples e cálculo complexo: quantas vidas dependem de um único ipê da Amazônia? Mezzo reportagem interativa, mezzo obituário de uma árvore, o resultado é coisa linda de se ver, naquela linguagem poética tão associada à cofundadora do Sumaúma, Eliane Brum. Publicado em novembro de 2023.
mario quintana
Epílogo
Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada agüenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas! Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca... Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade.
Das utopias
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
Distância
Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho.
Retirado do livro Prosa e verso (5. ed., Editora Globo, 1987), do autor gaúcho Mario Quintana.
Para acompanhar a situação no Rio Grande do Sul e saber como ajudar: Matinal, Nonada Jornalismo e Sul21.
“man looking at the origin of the world”, de jean-baptiste mondino
1998
Jean-Baptiste Mondino é um fotógrafo francês nascido em 1949. Conhecido principalmente por seu trabalho para marcas e revistas de moda, ele tem toda uma vida na música, assinando videoclipes e capas de discos para Prince, Björk, Neneh Cherry e outros nomes mais.
Uma de suas parcerias mais frutíferas é com ela: Madonna Louise, que dia desses veio dar pinta no Rio de Janeiro. Jean-Baptiste não só dirigiu meu videoclipe predileto da rainha do pop, como é autor da icônica foto de 1988 que integrou o material de divulgação da Celebration Tour, finda nas areias de Copacabana, em 04 de maio.
Absolutely no regrets.
aí então você vai me dizer se eu tenho razão!
fim.