Avoada #12
um inventário | 13 de junho de 2025
Um dia eu acordei e tinha 40 anos. Hoje, no caso. Treze de junho. Deu até urticária.
Afogada na nostalgia que a efeméride traz, andei pensando como foi que cheguei até aqui, para onde foram esses anos, que eu nem vi passar. Achei que rendia uma newsletter. Uma espécie de inventário, para roubar do Jarvis Cocker. Um diário de influências, uma cartografia temporal, com muito de egotrip e certo espírito de época.
Antes, a boa nova: se você leu Avoada #11, viu que eu citei a Urban Flowers, cuja produção de sapatos e acessórios tem preocupação sustentável. Não é que o pessoal da marca ofereceu 15% de desconto a quem lê esta newsletter? Basta inserir o cupom avoada15 ao fechar sua compra no site deles.
Segue válido o desconto de 15% na belíssima Jade Xavier, também mencionada em Avoada #11. Aproveita, chegaram estampas e até um novo modelo de peça. O aniversário é meu, mas quem ganha é você!
Última coisa: outro motivo diferencia esta edição. Lá no fim eu conto.
Boa leitura!
Mariana
*E um lembrete: Avoada é uma newsletter longa. Talvez seu provedor de e-mail corte o texto no meio. Mas nosso fim é no fim!
de tudo se faz canção
Em ordem mais ou menos cronológica, confiando nos enganos da memória, sem grandes compromissos com a pesquisa.
1) Venho de mãe baiana do Recôncavo e pai paulistano do Pari. Cresci numa casa de gostos ecléticos, entre Ziraldo e livros de moda, Joe Cocker e Luiz Gonzaga, todas as crenças e crença nenhuma. Classe média, com períodos financeiros de maré cheia e outros de maré baixa.
Se for para eleger trilha sonora, vou de Gal Costa dos anos 1990 por parte de mãe e Tom Zé por parte de pai.
2) Nasci em plena avenida Paulista. Sou um legítimo produto da cidade de São Paulo, da zona oeste da cidade de São Paulo. Da famigerada linha Verde do metrô.
Em algum momento eu aproveitei bastante a coisa toda. Muitas noites na rua Augusta, madrugadas pela Vila Madalena, chopes no finado Genésio. Toda hora um cinema de rua, um show no Sesc, um almoço na Liberdade, um tempo gasto na Livraria Cultura esperando a companhia chegar. Todo o combo. (Impossível não lembrar deste texto do Antonio Prata, marco de uma época.)
Acontece que perdi o elã. Não tenho mais a personalidade necessária para morar nesta cidade. Não suporto o barulho, não aguento o caos, não acompanho o custo de vida, não reconheço o bairro. Hoje, meu lugar favorito em São Paulo é a rodoviária do Tietê.
3) Cadê o Léo. Glub glub. Rá-Tim-Bum. X-Tudo. Mundo da lua. Uma infância inteira em um canal de televisão.
4) A tríade sagrada: Turma da Mônica, Mafalda e Calvin & Haroldo. Formaram o caráter meu e de várias gerações.
Entre os livros, Bruxa Onilda, O pequeno vampiro, O menino do dedo verde, A fada que tinha ideias, Olha o bicho, Pollyanna, Pollyanna moça. Quem lembra de uma série infanto-juvenil da Ediouro chamada “Escolha a sua aventura”, em que o leitor tomava decisões ao longo da história? Legal demais!
Mais tarde veio Agatha Christie, quando, se não me falha a memória, os livros eram vendidos na banca de jornal. Taí uma saudade: as bancas de jornal dos anos 1990.
5) Brinquei muito de Barbie. Lembro demais de um castelo da She-Ra, personagem que eu adorava. Centenas de horas da minha infância foram passadas diante da televisão, coisa que a pedagogia moderna condena, mas era comum nos anos 1990.
Os prediletos: Ursinhos Carinhosos, Cavalo de Fogo, ThunderCats, Caverna do Dragão, Capitão Planeta, Em que lugar da Terra está Carmen Sandiego?, O mundo secreto de Alex Mack, Sailor Moon, Power Rangers, tudo e qualquer coisa da Disney.
Anos depois surgiu um interesse por Lego Technic, o mais próximo do campo das exatas que o meu cérebro foi capaz de chegar.
6) TV Cultura ataca novamente. O tanto que eu amava Confissões de adolescente! Para mim, a Bárbara, interpretada por Georgiana Góes, era a pessoa mais cool do planeta.
7) Sim, crianças. Eu cheguei a fazer lição de casa com base em Tesouro da Juventude e enciclopédias afins. Existia luz elétrica, mas não Internet. Muito menos ChatGPT.
8) Trakinas de morango. Na adolescência eram dois pacotes por dia. Tudo muito saudável.
Pirei neste compilado de biscoitos, ou bolachas, lo que sea, e neste de doces dos anos 1990. Fofy! Chocolate Surpresa!
9) A máquina de escrever. Uma epifania quando ganhei a Olivetti Bambina vermelha que ainda guardo. Consta que por horas só se ouvia tec-tec-tec vindo do quarto.
10) Difícil explicar o impacto que a MTV Brasil dos anos 1990 teve em uma adolescente feito eu. Era o que eu queria da vida. O trabalho mais legal, com as pessoas mais legais – minha VJ favorita era a Chris Couto.
Nunca esqueço, diretamente do primeiro Video Music Brasil, em 1995, o encontro entre Sepultura, Carlinhos Brown, Nação Zumbi e companhia limitada. Isso é Brasil.
Vale lembrar que esta humilde newsletter estreou com um perfil de Fabio Massari. O foco da conversa é a sua produção literária, mas, claro, falamos de MTV. Vá por aqui.
11) Sei que a adolescência pode ser uma fase de traumas, mas fui muito feliz a partir do momento em que aterrissei na escola certa (certa para o meu perfil, bom pontuar).
Em primeiro lugar, fiz amizades para a vida inteira. A este ponto, vinte e tantos anos depois, já não é nem amizade. É família, mesmo.
Em segundo lugar, sabe aquela coisa de professores que formam seu caráter? Eu tive isso. Parece que foi ontem uma cena do Luiz, meu amado professor de Língua Portuguesa, circulando pela sala de aula enquanto cantarolava o seguinte:
Calhou de os corredores da Universidade de São Paulo me tornarem amiga de um dos filhos do Luiz. Calhou também de, hoje, esse filho dar aula na mesma escola do pai. Hoje, ele é para as novas gerações o que Luiz foi para mim. E isso é bonito demais.
12) A gente era bom de festa, viu. Tanto na casa de um ou outro colega de colegial quanto nas históricas festas do circo Nau de Ícaros, nos forrós do KVA, depois nas pistas do Blen Blen e do Studio SP.
Se hoje eu sou uma senhora careta é porque ali eu bebi tudo o que tinha para beber, fumei tudo o que tinha para fumar, fiz tudo o que tinha para fazer.
13) Música. Na minha adolescência, tão importante quanto oxigênio.
Engatava uma obsessão na outra. Janis Joplin. Bob Marley. Jorge Ben. Luiz Melodia. Djavan. Billie Holiday. Depois do jazz, descobri o blues (espia). Em dado momento ganhei de uma amiga Rio Revisited, de Tom Jobim e Gal Costa. “Dindi” é uma joia.
Mas dois artistas merecem menção honrosa na formação cívica desta que vos fala. Primeiro: Sublime. Ouvi tudo, decorei tudo, furei todos os discos.
Segundo: Lauryn Hill. The Miseducation of Lauryn Hill foi uma apoteose.
14) Elis Regina. Um tópico à parte. Desde o colegial a minha favorita absoluta, maior das maiores, rainha magnânima.
15) Rádio. Um hábito que me acompanha desde a tenra juventude. Não tem Spotify certo; para mim, nada bate o dial.
Das estações que resgatam o bom e velho pagode dos anos 1990 até as clássicas 89FM, Eldorado, Cultura, Alpha, Antena 1. Já falei aqui da rádio pública da cidade de Amparo, disponível online. Sem contar o projeto Goma-Laca.
Em resumo, se toca Marina Lima, Sade e Tears for Fears, sou uma fiel ouvinte.
16) Quantas tardes da adolescência eu passei andando em círculos no shopping Eldorado junto com minha amiga de infância e, ainda hoje, partner in crime.
A gente não comprava um alfinete. A farra era bater perna por horas, exercendo a nossa então incipiente independência. Nos enchíamos de amostra grátis no quiosque do pretzel e lá íamos nós, para cima e para baixo nas escadas rolantes. Vida boa.
17) Olha aí a televisão de novo. Surfei a valer toda a onda de seriados estadunidenses da década de 1990 ao fim dos anos 2000.
Já falei aqui da paixão por Gilmore Girls e da afeição por The Nanny. Também gastei um tempo com Minha vida de cão, Mad About You, Barrados no baile, Dawson’s Creek, Charmed, Sex and the City. Dia desses revi House e The Big Bang Theory.
E não posso deixar de falar em The Cosby Show. O quanto eu amava esse programa, cheio de cenas antológicas como esta. Dos maiores choques e decepções. (Se você não acompanhou as gravíssimas denúncias contra Bill Cosby, clique aqui.)
18) Agora, os seriados que me perdoem, mas uma boa novela é fundamental. Não vou nem me estender sobre Tieta. Uma newsletter inteira dedicada a essa obra-prima.
Fui espectadora de Mulheres de areia, Vamp, Vale tudo (a gente te ama, Lídia Brondi!), Pantanal, Avenida Brasil, A próxima vítima, Cordel encantado, Cheias de charme, Despedida de solteiro, Quatro por quatro, Fera ferida, Lado a lado, Bom sucesso. Gostei muito de Garota do momento, agora na reta final.
19) Encerrado o Ensino Médio, parti para duas faculdades ao mesmo tempo. Bons tempos em que existia a linha de ônibus 177P Pedra Branca/Butantã-USP, crucial para viabilizar a logística dos meus dois diplomas.
Jornalismo sempre foi minha escolha, nunca tive um minuto de dúvida. E eu sempre soube que meu lance é o impresso. Repito: que coisa maravilhosa era uma banca de jornal nos seus tempos áureos.

Eu sempre soube também que jornalismo diário, hard news, correria, nada disso é para mim. Eu gosto de pesquisa, muita pesquisa, mergulhos profundos, com tempo e calma, em um assunto por vez. No que entram as Ciências Sociais. A melhor decisão que tomei na vida.
Tenho plena convicção de que as Ciências Sociais melhoraram a jornalista (e o ser humano) que eu sou. A base teórica, o rigor conceitual, o olhar amplo. Mas também o Jornalismo é indissociável da minha faceta cientista social. A preocupação em se fazer entender, em tornar acessível uma informação. Levo como mantra uma fala de Antonio Candido ao Brasil de Fato, em 2012:
Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?
Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para poder divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.
É isso.
Uma curiosidade final. Meu primeiro texto publicado foi um perfil de Itamar Assumpção. Trabalho de faculdade que o Ziriguidum, do gentil Beto Feitosa, topou publicar. Foi parar na home do UOL. E assim eu estreei, em 2005.
20) Isso posto, eu não recomendo, se me permite o conselho, essa loucura de cursos simultâneos. Porque fazer uma faculdade não é só o que acontece na sala de aula.
A universidade lhe proporciona, sim, um diploma. Mas também, e tão importante quanto, a conversa no corredor, a cerveja no fim do turno, as festas no centro acadêmico, a biblioteca, a iniciação científica, as viagens a encontros e congressos, o movimento estudantil, a política do campus. É isso que forma um indivíduo.
E se tem um trem repetitivo nesta newsletter é a ode à amizade. Os laços criados naqueles prédios tempo nenhum desfaz. Muitas dessas pessoas você conhece, porque agraciaram edições de Avoada. São um patrimônio em vida. Já dizia minha mãe: mais vale um amigo na praça do que dinheiro no bolso.
21) Olhando para trás, diria que minha carreira até aqui tem três grandes marcos. O primeiro: Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e de Ação Comunitária (IDECA), organização sem fins lucrativos focada na avaliação de projetos sociais.
Na prática, isso significava viajar o país conhecendo projetos, conversando com gente, escrevendo relatórios. No alto dos meus 19 anos, eu respondia pela organização das agendas de campo para consultores no Oiapoque ao Chuí. Era só abacaxi para descascar, como tem de ser para quem está começando. É assim que a gente aprende.
Com o tempo, eu mesma fui para a estrada. Melhor emprego. E não posso deixar de exaltar a turma que me formou: Simone Coelho, Ghisleine Trigo, Candinha Cardinalli, Cintia Filpo, Gláucia Novaes, Daniel Hammoud, Patricia Rossetto, Cris Meirelles, tantos nomes. O IDECA já não existe, mas as relações se mantêm (alô, dona Vanessa!).


22) Segundo marco: Boitempo, editora de livros dedicada ao pensamento crítico, em especial marxista. Uns bons dez anos de casa, entre integrar a equipe e contribuir como freelancer. Não sei nem contar as dezenas de títulos em que trabalhei.
Uma aula. Que glória e que responsabilidade imensa é fazer livros. Aprendi tudo com as melhores: Ivana Jinkings, Ana Paula Castellani e Bibiana Leme.
23) Foi na Boitempo que tive a maior alegria, honra e privilégio da minha vida profissional. Fiz a preparação de texto em quatro livros de Angela Davis, minha maior referência política, farol de coerência e lucidez. Para quem quiser se familiarizar, Uma autobiografia é imperdível.
Quando ela veio a São Paulo, em 2019, não tive coragem de conhecê-la. Mas mandei um presente: o belíssimo primeiro disco da Xenia França.
24) Logo cedo eu decidi que usaria o máximo possível dos meus salários para viajar. Assim foi. De caju em caju eu pedia demissão, vendia tudo o que dava para vender e metia o pé. Em geral, sozinha. Não foi à toa uma edição de Avoada sobre o assunto.
Fotos minhas chegaram a ser publicadas aqui e ali, mas no fim passei a máquina fotográfica nos cobres para pagar passagem aérea. Se quiser ver mais, há um Flickr.









25) Numa dessas eu fui parar em Maya Angelou, até hoje minha escritora favorita. Achei um livro dela numa feirinha de bairro em Londres, na Inglaterra. O título me fisgou: All God’s Children Need Traveling Shoes. Paguei duas libras. Mudou a minha vida.
Falando em Londres, tem uma figura central nessa história: minha madrinha. Do Líbano para o Brasil, desde os anos 1980 radicada na Inglaterra. Enfrentou todo tipo de barra, resiliência pura. Minha madrinha rende um livro.
26) Taí uma coisa que eu amo. Feirinha de bairro. Sebo. Brechó. Bazar de igreja. Mercado de pulgas. Arquivos, acervos, coleções. Tudo o que eu possa revirar e tirar dali um achado. Se você lê Avoada, disso você já sabe.
Nesta edição não poderia ser diferente. Te dedico “Requiem para um jornal humorístico”, de Millôr Fernandes para O Pasquim, em 1985. Dos meus favoritos.
27) Frequentando sebos e precisando complementar a renda, a certa altura eu comecei uma papelaria artesanal. Customizava produtos com imagens garimpadas em livros e revistas antigos, carimbos, adesivos, decalques, por aí vai. Alegria pura.
Abaixo, algumas das coisas que fiz em duas encarnações da marca. Aos poucos estou retomando a produção (inclusive para sair da frente do computador).



28) Também meu filme predileto é descoberta de viagem, dessa vez a Edimburgo, na Escócia. Hunger, de 2008, do Steve McQueen. Assisti sem querer, estava passando na televisão do hotel. É incrível.
Meu top 10 inclui ainda The Commitments, Priscilla, a rainha do deserto, Imensidão azul, Bye Bye Brasil...
29) Quis o destino que eu fosse parar na Irlanda, de mala e cuia, sem planos de volta.
Voltei. Mas a Irlanda só me foi generosidade. Um país que mora em meu coração.
30) A Irlanda me foi tão generosa que lá eu pude realizar o sonho de trabalhar na Anistia Internacional, no escritório de Dublin. Em pleno referendo histórico que alterou a lei de acesso ao aborto no país, até então uma das mais restritivas no mundo.
Aprendi muito sobre ativismo e mobilização. Até escrevi um artigo no LinkedIn compartilhando aprendizados (é preciso estar logado na rede social para acessar).
31) Gilberto Gil era a grande companhia quando dava saudade do Brasil. Em especial, Um Banda Um e Refavela.
32) Em algum momento fui ter nos Lençóis Maranhenses. A trabalho. Várias vezes. Acredite se quiser, eu era paga para isso.
Tempos mágicos num lugar mágico que marcou minha vida em muitos sentidos.



33) Aí, estourou uma pandemia. No que entra o terceiro grande marco da minha carreira: o jornal Valor Econômico.
Até então, minhas experiências no jornalismo tinham sido em revistas menores, de nicho. A verdade é que eu tinha pânico de um veículo tão grande quanto o Valor. Não me sentia digna nem capaz.
Só que veio a COVID-19. E no meio de uma tragédia dessas a gente coloca as coisas em perspectiva. Resolvi encarar meu medo. Propus uma pauta ao caderno de fim de semana, toparam, fiz. Depois fiz outra. E mais outra. Estou lá até hoje.
Devo tudo a Célia de Gouvêa Franco. E ao Luis, amigo das antigas, que botou fé e botou pilha em mim desde o momento zero. Levei só vinte anos para acreditar nele.
Se quiser ler minhas matérias no Valor, está tudo organizado no meu perfil no LinkedIn (a única rede social em que estou).
34) Comprei Casimiro Miguel na baixa, muito antes de ele juntar multidões e ser notícia. Testemunhei as primeiras publicidades nas lives. Vibrei feito a vitória de um amigo próximo quando saiu o anúncio da transmissão da Copa do Mundo.
Cazé foi um marco dos meus dias pandêmicos, fez companhia a mim e a milhares de outras pessoas durante tempos tristes demais. A ele e a seu carisma fora do normal eu serei eternamente grata.
35) Na pandemia resgatei um hábito que segue firme: acordar cedo aos domingos para assistir Globo rural. O melhor programa jornalístico da televisão.
A clássica música de abertura é “Luzeiro”, do Almir Sater, de um disco que eu inclusive já recomendei aqui.
36) Outra coisa que eu amo: palavras cruzadas. Faço todo dia. Me nota, Coquetel!
37) Quando o jornalismo sucumbir de vez enquanto profissão viável (o que, convenhamos, não demora), o plano B dos sonhos é ser personal organizer.
Quer me ver feliz? Me dê uma gaveta, um closet, uma pasta de documentos para organizar. Nasci para isso. Tenho paciência de Jó e talento para ajudar os outros a praticar o desapego.
Digo mais. Vejo total conexão entre a paixão por organização e a paixão por jornalismo. Escrever uma matéria nada mais é do que reunir, classificar e dar encadeamento lógico a uma pilha de informações. Para mim, é tipo montar quebra-cabeças. Ou palavras cruzadas.
38) Menopausei aos 38. A palavra “precoce” sequer dá conta.
Não tenho muito a declarar, porque não sou da turma que se esforça para ser especialista no diagnóstico recebido. Lido com as mudanças conforme elas vêm. Sim, muita coisa muda. Vida, impermanência, aquelas sabedorias do budismo.
Tenho só um comentário edificante a fazer. Porque uma das consequências da menopausa é que a gente não engravida mais. Por mim, tudo bem. Não tenho filhos, nunca quis tê-los. E aqui eu comento: quantas vezes a Paolla Oliveira terá de responder à imprensa sobre isso? Qual é a física quântica envolvida?
Não é difícil de entender, bicho. Há quem queira ter filhos. Há quem não queira. Há até quem esteja em dúvida. Que cada pessoa decida em paz, não? Eu, hein.
39) De verdade, faça exercício físico. Se a menopausa faz uma exigência, é a atenção a isso. E eu falho miseravelmente, não vou mentir.
Mas você não falhe. Faça exercício físico.
40) Eu poderia me esforçar por um fim mais poético a esta newsletter, mas o fato é que um só assunto tem comandado os meus dias: dinheiro. Sinto muita empatia por quem está chegando agora na profissão, porque o mercado de trabalho não está para peixe. A coisa está cada vez mais difícil e, se eu dei sorte até aqui, posso até pagar as contas aos 40, aos 41 eu já não sei. Que dirá aos 60.
De modo que o pragmatismo tomou conta e, mais do que nunca, meu nome é trabalho. O que faz desta a última Avoada da temporada.
Sim, daria para ganhar dinheiro com este projeto, estávamos caminhando para isso. Mas eu preciso escolher minhas guerras. E não é para sempre, é só por enquanto. Tenho edições inteiras prontas na minha cabeça, e há planos analógicos, offline, que envolvem a Loja Monstra. Dou notícias.
Fica aí um acervo enorme a ser explorado, porque Avoada é uma newsletter megalomaníaca. A você que embarcou nessa comigo, o meu mais sincero obrigada.
Cuide-se. E saúde para nós!
fim.





UM PUTA ANIVERSÁRIO, FELIZ E .... SEO LÁ O QUÊ MAIS!!!! BJS.
Só li agora, porque queria ler com a calma que o evento merecia, e fiz bem: que delícia esse passeio por biscoitos e viagens. Sua cara. Aliás, Mari, sua carinha aos 40 e aos 30, quando te conheci, foi sempre a mesma, a imagem de uma pessoa íntegra, idealista e divertida. Que bom que nosso trabalho se transformou em amizade. ✨