Avoada #9
coisa para se guardar | 28 de dezembro de 2024
Mais um ano que termina, outro que se achega, e descansar é preciso. Não há quem aguente a máquina de moer sem um ócio, um lúdico, um mínimo de respiro.
Veio daí a inspiração para esta Avoada, recheada de boa arte para os seus dias de recesso. Com a intenção de que você espaireça, se emocione, se divirta.
Não inventei a roda, sei que no fim do ano muita gente dá suas indicações. Mas eu trago na manga um trunfo: meus amigos.
Um punhado deles respondeu ao chamado de Avoada e compartilhou predileções. Aprendi um monte, viu? Muita coisa eu sequer sabia que existia.
E aprendo sempre, demais, com essas pessoas e tantas outras que aqui poderiam estar. Porque se eu acumulei um patrimônio em vida, esse patrimônio são meus amigos.
De Fortaleza a Maringá, da Alemanha a Luxemburgo, é gente de toda forma e conteúdo. Comigo há décadas, na saúde e na doença, nos casamentos e nos divórcios, no dólar a R$ 2 e a R$ 6. Nas marés cheias e baixas da vida.
Foi por isso que, quando brifei a Pedro Nere, meu designer gráfico favorito, uma arte para Avoada, pedi uma revoada de passarinhos. Mesmo nas edições em que assino todos os textos, eu, sozinha, não faço verão. Sou sempre a soma do que ouço e absorvo dessas criaturas maravilhosas que me cercam.
É esse meu desejo para o seu 2025: as melhores amizades.
Bom fim de ano e boa leitura!
Mariana
*E um lembrete: Avoada é uma newsletter longa. Talvez seu provedor de e-mail corte o conteúdo no meio. Mas nosso fim é no fim!
só a arte salva
belezas acesas por dentro para deslumbrar seu fim de ano
Papel e caneta a postos! A seguir, uma ruma de sugestões que, esperamos, falem a vossos corações e mentes. Lembrando que em todas as edições anteriores (e futuras!) de Avoada você encontra dezenas de indicações mais.

um disco para ouvir inteiro
Marina Lima (1991). Delícia de álbum.
Heitor Augusto sugeriu good kid, m.A.A.d city, de Kendrick Lamar (2012). E Pedro Nere não pula faixa alguma de Post, de Björk (1995).
Para todos os gostos!



um show disponível no YouTube
Bob Marley, hoje e sempre.
Há algumas apresentações ao vivo no canal oficial do artista no YouTube. Recomendo esta no teatro londrino Rainbow, em 04 de junho de 1977. Espia só uma das faixas:
um podcast
Não sei. Não sou capaz de opinar. Talvez seja crime declarar em voz alta, mas: não morro de amores por podcast. Perdão.
Daí que pedi ajuda a três dos meus universitários mais por dentro do assunto.
Silvia Wargaftig recomendou Prato cheio, de O Joio e O Trigo.
Raul Andreucci escolheu Para dar nome às coisas, de Natália Sousa.
E Ana Maria Straube exaltou Os caminhos de Niéde Guidon, de B9 e Instituto Serrapilheira. No que aproveito para propagandear A ditadura recontada, podcast produzido por Globoplay e CBN no qual Ana trabalhou – ela é uma das minhas grandes referências em questões de ditadura militar brasileira.
Agora, falando em CBN, de rádio eu entendo: Antena 1 é ótima para ouvir online. Rádio Cultura Brasil foi a minha audição natalina. E a rádio pública da cidade de Amparo tem me feito bastante companhia! Só assim a gente lembra que pérolas como esta existem.
um filme
Para levantar o espírito recomendo The Commitments, de Alan Parker (1991). Amo, amo, inclusive os dois volumes da trilha sonora.
Natália Lago também seguiu por um caminho good vibes e sugeriu Cantando na chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen (1952). Clássico!
E, para fechar, Roberta Jereissati foi a única a indicar um curta: Recife frio, de Kleber Mendonça Filho (2009). Aproveita, está disponível no YouTube!



um seriado
Sou da novela, né? Tieta para todas as horas, Vale tudo enquanto o remake não vem.
Gilmore Girls é meu conforto, mas consigo entender quem não suporta (eu mesma finjo que A Year in the Life, de 2016, nunca existiu).
Então, minha indicação aqui é outra: The Nanny. O melhor figurino, a melhor heroína. Sabia que Fran Drescher é uma baita líder sindical? Procure saber!
Victor Sá recomendou How to with John Wilson. Conforme ele me explicou, a categoria “documentário” talvez não se aplique tão bem, tamanha a liberdade criativa do programa. Victor preferiu o termo “crônicas”. Fiquei curiosíssima.
Já Jorge Wakabara foi prolífico nas sugestões: Ruptura, The Leftovers, One Day at a Time e The Stand (a versão de 1994, pontuou ele).
De tédio você não morre!
uma artista
Georgia O’Keeffe. Que mulher!
Vale investigar a vida e a obra, você não vai se arrepender. Um ótimo lugar para começar é o Georgia O’Keeffe Museum, de onde tirei as pinturas (e fotografia) abaixo.









georgia on my mind
um livro
Dois, na verdade. E em ambos os casos há certa autopromoção. É que de vez em quando eu dou muita sorte na vida…
O primeiro é Dzi Croquettes: as internacionais, de Claudio Tovar (Paraquedas, 2024). Se você acompanha esta newsletter desde o início, sabe da minha paixão pelo grupo de teatro que abalou as estruturas dos anos 1970.
Pois não é que escrevi sobre eles para o Valor Econômico? Li o livro feito por Tovar, um dos integrantes da formação original, e o entrevistei para o caderno de fim de semana do jornal. Inspiração pura!
O segundo é a minha predileção em vida: Uma autobiografia, de Angela Davis (Boitempo, 2019). Tive a honra, o privilégio e a alegria de trabalhar nesse livro, assim como em outros três títulos da autora. Leitura fundamental, imperdível, diria até obrigatória.
Minhas férias serão à base de:
Totally Wired: The Rise and Fall of the Music Press, de Paul Gorman (Thames & Hudson, 2023 – comprei faz tempo na loja física da VOS 011, em São Paulo); e
Gazeta Mercantil: a trajetória do maior jornal de economia do país, de Célia de Gouvêa Franco (Contexto, 2024).
Sim, ando temática, afogada em jornalismo. E te conto também que dona Célia há anos mora no meu coração por uma série de razões, inclusive por ter sido a grande responsável pela minha chegada ao Valor Econômico.
Mas se você está mais para a ficção, Lia Urbini dá a letra: Levantado do chão, de José Saramago (1980). Segundo ela, é um acontecimento, “preferido do mundo”. E nela eu acredito piamente.
uma história em quadrinhos
Diretamente da Loja Monstra trago Carniça e a blindagem mística, de Shiko. São três partes, lançadas entre 2021 e 2024 de forma independente pelo autor. Há relatos de uma quarta parte por vir.
Não sou muito da violência, mas Carniça me pegou. Algumas das belíssimas páginas, junto com as belíssimas capas:



Bibiana Leme, por sua vez, celebrou O essencial de Perigosas sapatas, de Alison Bechdel (Todavia, 2021). “Livraço”, disse ela. “Fico abismada com a profundidade que alguns quadrinhos conseguem ter.” Te convenceu? Me convenceu demais!
um poema
ifigênia
a literatura ocidental começou com uma guerra
não a neblina das grandes cidades
faz tanto tempo que talvez ouço quase
a literatura ocidental começou com um massacre
isso você respira como quem veleja
o livro permanece aberto vê
é minha vez de contar a história
esse pacto só sobraram pedras
e rios sob o asfalto esse nevoeiro
agora chamam de santuário
o sêmen sobre os lábios seco
antes da primeira letra
antes do primeiro grifo
alguém já implorava misericórdia
estou pronta a canção
também as crianças precisam dormirDo magistral Também guardamos pedras aqui, de Luiza Romão (Nós, 2021). Se quiser explicações, aqui ela fala sobre o processo criativo do poema e do livro como um todo.
um garimpo
E Avoada não seria Avoada sem uma joia escavada nos arquivos da Internet. Da edição 157 do Jornal do Brasil, em 24 de setembro de 1972, resgato essa obra-prima de Marina Colasanti, um texto que carrego como mantra: “Eu sei, mas não devia”.
Eu sei. Mas não devia.
e se não me engano, no próximo ano… chega mais, 2025!
fim.



Q delícia de leitura, vou atrás de várias dessas dicas!
Abençoada verve querida!!!!!!🥰